Elaboração de Petição Inicial de Proteção de Dados com Fundamentação na LGPD e Princípios Constitucionais

Elaboração de Petição Inicial de Proteção de Dados com Fundamentação na LGPD e Princípios Constitucionais

Este modelo apresenta diretrizes detalhadas para a elaboração de uma petição inicial focada na proteção de dados pessoais, fundamentada na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e amparada pelos princípios constitucionais. Inclui orientações sobre a qualificação das partes, a exposição dos fatos, os fundamentos jurídicos essenciais (conforme o CF/88, CPC/2015 e outros dispositivos correlatos) e a formulação de pedidos claros, com o objetivo de assegurar o direito à privacidade e à proteção das informações pessoais.

Publicado em: 23/06/2025 AdvogadoProcesso CivilConstitucional

ARTIGO JURÍDICO - ELABORAÇÃO DE PETIÇÃO INICIAL FUNDAMENTADA NA LGPD

INTRODUÇÃO

A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) representa um marco na defesa e na regulamentação das informações pessoais dos cidadãos. O presente artigo tem por objetivo orientar sobre a elaboração de uma petição inicial fundamentada na LGPD, especialmente em ações de proteção de dados pessoais, tendo como base os princípios constitucionais e legais vigentes. A discussão aqui apresentada é relevante para o público em geral, explicando conceitos jurídicos de maneira clara e com exemplos práticos, sem perder a consistência técnica necessária ao tema.

FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL

1. BASES CONSTITUCIONAIS

A proteção dos direitos fundamentais e da privacidade encontra respaldo na Constituição Federal de 1988. Em especial, o CF/88, art. 10, §1º reafirma a importância da segurança jurídica e do respeito à intimidade dos indivíduos. Estes preceitos garantem que qualquer medida que envolva dados pessoais seja tomada com cautela e fundamentação robusta, resguardando os direitos essenciais dos cidadãos.

2. FUNDAMENTOS LEGAIS

Além do dispositivo constitucional, outros instrumentos legais complementam a proteção dos dados pessoais:

  • CCB/2002, art. 11, §1º, III: Estabelece normas de conduta e obrigações que visam o equilíbrio na prestação de serviços e segurança dos dados.
  • Lei 7.250/2014, art. 50: Ainda que esta norma trate de políticas públicas e acesso a serviços de saúde, sua aplicação ressalta a necessidade de um tratamento ético e imparcial de informações pessoais, aspecto que encontra eco na LGPD.
  • CPC/2015, art. 319: Define os elementos essenciais da petição inicial, exigindo clareza e fundamentação detalhada dos pedidos e dos fundamentos jurídicos.
  • CPP, art. 12: Aponta as diretrizes a serem observadas nos procedimentos legais, reforçando a necessidade de respeito aos direitos processuais.
  • CP, art. 284, §1º: Ainda que relacionado ao direito penal, reforça a importânica de se observar a legalidade e proporcionalidade na aplicação de medidas, princípios estes que devem ser refletidos em demandas de proteção de dados.

ELABORAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL: CONCEITOS E ELEMENTOS ESSENCIAIS

1. OBJETIVO DA PETIÇÃO INICIAL

A petição inicial é o instrumento formal que dá apoio ao pedido de tutela jurisdicional. No contexto de ações de proteção de dados, ela deve apresentar, de forma clara e objetiva, os motivos pelos quais os direitos à privacidade e à proteção de informações pessoais foram violados.

2. ELEMENTOS OBRIGATÓRIOS

Conforme orienta o CPC/2015, art. 319, a petição inicial deve conter:

  • Qualificação das partes: Identificação completa do autor e do réu, facilitando a compreensão do contexto fático e jurídico.
  • Exposição dos fatos: Narrativa dos acontecimentos, com ênfase na violação dos dispositivos protetivos da LGPD.
  • Fundamentação jurídica: Indicação dos fundamentos legais e constitucionais (como o CF/88, art. 10, §1º e outros citados) que embasam a pretensão, evidenciando o amparo legal da demanda.
  • Pedidos claros e precisos: Definição das medidas de proteção aos dados pessoais, estatal ou indenizatórias, conforme o caso.
  • Provas: Relacionamento de documentos e demais elementos probatórios que demonstram a violação dos direitos do autor.

3. FUNDAMENTAÇÃO NA LGPD

Para que a petição seja robusta, é imperativo articular os fundamentos legais da LGPD com os dispositivos constitucionais e outros instrumentos aplicáveis. A argumentação deve evidenciar:

  • A inadequação dos tratamentos de dados realizados sem o consentimento explícito ou sem a devida comunicação, configurando violação dos direitos de privacidade.
  • A necessidade de responsabilização dos agentes de tratamento de dados, reforçando a obrigação de cumprimento dos preceitos lançados na LGPD, aliados aos princípios estabelecidos pela CF/88, art. 10, §1º.
  • A importância de medidas corretivas e preventivas, que asseguram não apenas a reparação de danos, mas também a implementação de práticas que evitem futuras violações, em conformidade com disposições como as presentes no CCB/2002, art. 11, §1º, III.

4. EXEMPLOS PRÁTICOS

Para uma compreensão mais concreta, considere o seguinte exemplo prático: um consumidor descobre que seus dados pessoais foram disponibilizados sem sua autorização em plataformas de terceiros. Na petição inicial, o advogado deverá:

  1. Relatar o ocorrido de forma detalhada, demonstrando quando e como os dados foram indevidamente compartilhados;
  2. Apresentar fundamentos extraídos da LGPD, indicando a falha no tratamento dos dados e a omissão do agente responsável;
  3. Utilizar dispositivos como o Lei 7.250/2014, art. 50 como parâmetro para argumentar a necessidade de proteção e reparação dos danos;
  4. Requerer medidas urgentes, fundamentadas ainda no CPP, art. 12 e no CP, art. 284, §1º, que, embora de áreas distintas, reforçam os princípios da legalidade e do devido processo.

DESEMPENHO DAS GARANTIAS E DIREITOS DO USUÁRIO

A proteção dos dados pessoais não se limita apenas à reparação dos danos, mas também à prevenção de novas violações. Assim, a petição pode incluir pedidos de medidas cautelares, tais como a suspensão imediata do uso indevido dos dados e a implementação de políticas internas de segurança e privacidade.

Este cuidado não só atende à demanda dos usuários, mas também reforça o compromisso com a transparência e com o respeito à dignidade do cidadão, conforme princípios constitucionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração de uma petição inicial fundamentada na LGPD demanda o domínio dos princípios que regem tanto o tratamento de dados pessoais quanto os aspectos processuais. Ao articular os fundamentos constitucionais, especialmente os destacados no CF/88, art. 10, §1º, e os dispositivos legais correlatos, o advogado garante a consistência e a eficácia dos pedidos formulados.

Por meio de uma exposição clara dos fatos, da fundamentação detalhada e do atendimento estrito aos requisitos do CPC/2015, art. 319, os jurisdicionados poderão ter acesso a uma tutela jurisdicional que respeite os direitos à privacidade e à proteção dos seus dados pessoais. Assim, a petição torna-se não apenas um instrumento jurídico, mas também uma ferramenta de garantia dos direitos fundamentais previstos na legislação.